Entesopatia do tendão de Aquiles
A entesopatia do tendão de Aquiles é um quadro que envolve quatro alterações distintas na região onde o tendão se insere no osso do calcanhar (calcâneo). Essas alterações incluem: (a) tendinite insercional do Aquiles, (b) bursite retrocalcânea, (c) deformidade de Haglund e (d) calcificação intrassubstancial. Embora sua prevalência na população geral não seja bem definida, a EA é mais comum entre atletas.
• Introdução
O tendão de Aquiles é o maior e mais forte do corpo humano. Ele conecta os músculos da panturrilha ao osso do calcanhar e é essencial para atividades como caminhar, correr e saltar. Entender sua estrutura e função é fundamental para diagnosticar e tratar a EA de forma eficaz.
Por exemplo, saber que o tendão é composto principalmente por colágeno tipo I pode orientar o tratamento — especialmente quando se busca estimular a regeneração ou prevenir a degradação desse colágeno.
Existem duas formas principais de entesopatia:
Insercional, que afeta o ponto de fixação do tendão ao osso, e
Não-insercional, que ocorre na porção média do tendão.
A forma insercional é mais frequente e pode ter origem em sobrecarga, trauma ou degeneração. Já a forma não-insercional costuma estar relacionada à tendinose, caracterizada por pequenas rupturas e degradação das fibras de colágeno. Ambas podem causar dor, rigidez e perda de mobilidade.
Se não tratada, a inflamação crônica pode levar a alterações degenerativas, como fibrose e ruptura do tendão.
• Entidades patológicas associadas
As quatro principais alterações observadas na EA são:
Tendinite insercional do Aquiles – Inflamação no ponto onde o tendão se insere no calcâneo. É causada por uso excessivo, microtraumas ou degeneração, resultando em dor, inchaço e rigidez.
Bursite retrocalcânea – Inflamação da bursa localizada entre o tendão de Aquiles e o osso do calcanhar.
Deformidade de Haglund – Proeminência óssea no dorso do calcâneo que irrita o tendão, geralmente associada a atrito repetitivo.
Calcificação intrassubstancial – Deposição de cálcio dentro do próprio tendão.
Outras condições associadas incluem tendinose, paratendinite (inflamação dos tecidos ao redor do tendão) e entesófitos (formação de osso nos pontos de inserção tendínea).
• Fatores de risco
Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento da EA:
Atividades em superfícies rígidas – Aumentam o impacto e favorecem microtraumas.
Alterações na marcha – Podem gerar sobrecarga no tendão e estruturas adjacentes.
Obesidade – Aumenta a carga sobre o tendão durante atividades cotidianas.
Calçados inadequados – Falta de suporte ou amortecimento eleva o estresse sobre o tendão.
Rigidez muscular – Panturrilhas encurtadas sobrecarregam o tendão.
Fasciíte plantar – Pode alterar a marcha e sobrecarregar a inserção do Aquiles.
• Diagnóstico
O diagnóstico da EA é clínico e por imagem:
Histórico clínico – Avaliação dos sintomas e fatores de risco.
Exame físico – Palpação do tendão, teste de dor, amplitude de movimento e marcha.
Radiografias – Identificam deformidades ósseas ou calcificações.
Ressonância magnética – Visualiza alterações em tecidos moles.
Ultrassom – Útil para análise dinâmica do tendão.
Exames laboratoriais – Podem ser solicitados para excluir doenças sistêmicas associadas, como espondilite anquilosante.
• Tratamento conservador
As abordagens conservadoras são a primeira linha de tratamento e incluem:
Exercícios excêntricos – Fortalecem e recondicionam o tendão. O Protocolo de Alfredson, por exemplo, consiste em 3 séries de 15 repetições de descida excêntrica no degrau, duas vezes ao dia por 12 semanas.
Outros exercícios úteis:
Elevação unilateral da panturrilha
Agachamento excêntrico
Leg press excêntrico
Terapia por ondas de choque extracorpóreas (TOC) – Essa modalidade tem se mostrado eficaz na redução da dor e na melhora funcional em casos crônicos de EA. As ondas acústicas promovem a regeneração tecidual, neovascularização e modulação da dor, sendo especialmente indicadas quando o tratamento convencional não apresenta bons resultados.
Outros recursos frequentemente utilizados:
Órteses – Para aliviar a pressão local.
Fisioterapia – Focada em reequilíbrio muscular, alongamento e controle da inflamação.
AINEs, analgésicos e relaxantes musculares – Para controle sintomático da dor e da inflamação.
• Tratamento cirúrgico:
- O tratamento cirúrgico pode ser necessário para casos refratários. Algumas opções de tratamento cirúrgico que podem ser consideradas:
1. Desbridamento: envolve a remoção de tecido danificado ou degenerado da área afetada do tendão.
2. Transferência de tendão: envolve a transferência de um tendão saudável de outra parte do corpo para substituir a parte danificada do tendão de Aquiles.
3. Alongamento: envolve o alongamento do tendão de Aquiles para reduzir a tensão na área afetada.
4. Osteotomia: envolve cortar e reposicionar um osso para aliviar a pressão na área afetada do tendão.
5. Cirurgia endoscópica: envolve o uso de uma pequena câmera e instrumentos especializados para realizar uma cirurgia minimamente invasiva na área afetada do tendão.
Em conclusão, a Entesopatia do Tendão de Aquiles (EA) é uma condição que pode causar dor e limitação da mobilidade na área afetada. Embora os tratamentos conservadores, como exercícios excêntricos, tenham se mostrado eficazes na redução da dor e na melhora da função, o tratamento cirúrgico pode ser necessário para casos refratários.